Múcio Azevedo - Presidente da Assobege |
Nosso entrevistado de hoje é o presidente da Associação dos Empreendedores de Mármore Bege Bahia de Ourolândia, o empresário e industrial Múcio Anselmo Azevedo, falando da nova consciência implantada nas empresas de mármore de Ourolândia após a Fiscalização Preventiva e Integrada, ocorrida em outubro do ano passado, e também sobre o que o pleito político que acontece em cinco de junho próximo pode contribuir para a formação de uma nova consciência na população de empresários, eleitores e lideranças políticas do município.
Acompanhe:
Ouro Notícias: Quantas empresas de mármore operavam antes da Fiscalização Preventiva e Integrada (FPI), ocorrida em outubro de 2010, e quantas operam atualmente em Ourolândia?
Múcio: Ao tempo da FPI o número de empresas atuantes no setor, incluindo as não associadas, era de 42, todas de pequeno e médio porte. Esse número deverá chegar até o final do ano a 45, com a entrada em operação de mais três serrarias, uma delas já em funcionamento.
Ouro Notícias: Houve queda na produção de matéria prima (blocos de mármore) em Ourolândia após a fiscalização? Se houve, afetou o mercado?
Múcio: Houve sim. Parte disso suprido pelas empresas: Flama; Marbom e Brastone, que ampliaram um pouco a produção e a comercialização de blocos, sem o que algumas empresas de beneficiamento teriam fechado as portas. O que se perdeu de fato foi a produção oriunda das atividades clandestinas de mineração que foram definitivamente encerradas.
Ouro Notícias: Quantos empregos diretos a cadeia produtiva do mármore gera atualmente? E antes?
Múcio: O número antes da FPI girava em torno de 750 empregos diretos, não houve queda em função do esforço coletivo dos empresários para superar as dificuldades geradas pela interdição forçada e pela incerteza que isso causou em nossos clientes e em todos nós. Sempre havia a esperança de que retomaríamos as nossas atividades num tempo muito breve, o que terminou por ocorrer já nos últimos dias de 2010. Hoje já devemos nos aproximar de 800 empregos diretos, esse número vai crescer mais ainda com a nossa legalização plena, o que é muito significativo para uma cidade como a nossa.
Ouro Notícias: O que mudou no comportamento dos empresários do mármore de Ourolândia após a FPI?
Múcio: Do ponto de vista econômico já existe a consciência de que a exploração predatória das nossas reservas resultará em prejuízos para o próprio setor minerador. Em termos culturais o processo de mudanças é lento e tem ocorrido muito mais pelo temor das punições do que pelo desejo de se ter uma relação mais equilibrada com o meio ambiente. Como é um processo demanda investimentos em recursos de toda ordem, principalmente de natureza cultural. De qualquer maneira, por bem ou por mal, todos serão obrigados a uma mudança de comportamento sob pena de ser objeto de ações a partir das posturas do Ministério Público, que está atento e atuante na defesa dos nossos recursos naturais. Com referência às nossas relações trabalhistas, a atuação do Ministério Público Federal do Trabalho obrigou os empresários a tomar consciência de que todas as irregularidades existentes deveriam ser sanadas no prazo estabelecido no Termo de Ajuste de Conduta firmado com aquela Promotoria. Isso, que parece uma punição, na verdade ao defender os diretos dos trabalhadores, também protege as empresas de prejuízos futuros que sempre ocorrem em todas as atividades humanas.
Ouro Notícias: É sabido pela população que o Ministério Público do Trabalho e o Instituto do Meio Ambiente determinaram mudanças nas empresas e estabeleceram prazos para o cumprimento dessas mudanças. Após sete meses, as empresas cumpriram estas determinações?
Múcio: Todas as exigências constantes do Termo de Ajuste de Conduta estão sendo atendidas na medida das possibilidades das empresas. Há itens que demandam a contratação de serviços de terceiros: profissionais de geologia; arqueologia; biologia e etc. Nossa região não dispõe de muitos desses, mas em termos gerais, em que pese à burocracia existente, todos os termos firmados com as autoridades estão sendo atendidos.
Ouro Notícias: O Senhor acredita em punição da Justiça, para os omissos?
Múcio: Acredito piamente. O mundo tem hoje uma consciência ambiental como jamais houve. Preocupa-nos que a visão dos legisladores determine somente ações de natureza punitiva, e isso tirar das pessoas a percepção de que ninguém ainda sabe a maneira mais correta de lidar com o ambiente em que vivemos. O mundo inteiro está aprendendo, porque os efeitos das ações humanas são impactantes pelo simples fato de o homem existir. De todo modo não se pode criar leis para que elas sejam impunemente desobedecidas, pode até tardar, mas as ações do Judiciário, quando acionado por meio de denúncias, acabarão se efetivando e quem tiver culpa pagará o preço. Algumas vezes de modo pecuniário outras até com restrição da própria liberdade.
Ouro Notícias: Quais itens dessas mudanças o senhor destacaria como mais importantes?
Múcio: A eliminação das atividades clandestinas, que são as que mais causam danos ao meio ambiente pela forma como se processam sem nenhum cuidado com a preservação e com a exploração racional das reservas. Em segundo lugar, muito mais por força da possibilidade das punições, o fato de que tem havido uma busca de trabalhar de forma legalizada em perfeita obediência aos postulados legais.
Ouro Notícias: Qual o principal papel da Assobege neste processo de extrema necessidade de mudança de comportamento dos empresários?
Múcio: Em parceria com o poder público a Associação dos Empresários deverá desenvolver uma nova consciência de natureza cultural; firmar convênios com Ongs e outros setores organizados da sociedade; identificar e georeferenciar todos os acidentes geográficos, como cavernas, fontes, grutas, figuras rupestres, tornando-os conhecidos do conjunto da população, divulgando a existência dos mesmos para outras regiões, promovendo alguma forma de turismo local e regional para que todas as pessoas e principalmente aos de idade escolar conheçam as nossas riquezas arqueológicas a aprendam a preservá-las.
Ouro Notícias: Que comportamento o Senhor entende ser correto à Associação diante da eleição suplementar para prefeito que ocorrerá em 5 de junho e qual a importância disso e do pleito para a cadeia produtiva do mármore?
Múcio: A Assobege é uma entidade apolítica. No conjunto dos sócios existem pessoas vinculadas às duas facções que têm se revezado no exercício do poder. Não posso falar de ideologias porque isso se existe aqui, é ainda muito embrionário.
Ourolândia é vitima de sua própria história política. Fabricou-se um monstro que impede hoje as lideranças de promoverem as mudanças necessárias. O clientelismo político que reina entre nós (e aí é minha opinião) é o responsável pela tragédia que nos faz ser, a um tempo, réus e vítimas. O que se vê é uma luta desesperada pelo poder e uma absoluta ausência de projetos políticos que promovam o resgate da dignidade das pessoas e qualquer consciência de cidadania. As campanhas políticas primam por evidenciar as baixarias de forma individual e coletiva, e pecam por não apresentar os projetos de desenvolvimento tão necessários de que os postulantes deveriam dar conhecimento à população. Ainda vai levar muito tempo para que a gente possa se orgulhar das atividades político eleitorais da nossa terra. Eu não tenho esperança de viver o bastante para realizar o sonho de assistir os embates políticos restritos ao campo dos projetos e das idéias. Espero que as gerações futuras tenham o privilégio de poder viver uma nova realidade. Desejo de coração que isto aconteça e enquanto tiver forças lutarei por isso.
Essas mudanças dependem dos lideres e de povo, mas muito mais dos lideres, pois foram eles que semearam essa tragédia, motivo de vergonha para qualquer pessoa de bem. As pequenas elites, de um e do outro lado, são as principais beneficiárias das possibilidades de melhorias que o dinheiro público é capaz de promover. Por essa razão não é de se estranhar que em nossa sociedade exista pequenas ilhas de prosperidade rodeadas por um mar de miséria. Torço para que o resultado desse pleito não faça acontecer somente a vitória de um dos grupos, mas que comece a despertar na sociedade em geral a sensibilidade necessária para que as mudanças que a gente tanto deseja comecem a acontecer em benéfico tanto da população em geral quanto das atividades geradoras de emprego e renda. Ainda não perdi a esperança.
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