quinta-feira, 5 de maio de 2011

Empresários da construção temem calote do governo

Biaggio Talento l Agência A TARDE
Atolados em dívidas devido a atrasos de até um ano no pagamento de contratos e sem explicações convincentes de parte do governo do Estado, pequenos e médios empresários da construção filiados à recém-criada Associação Baiana das Empresas de Obras Públicas (Abeop) foram obrigados a paralisar seus trabalhos e estão na iminência de demitir perto de mil operários caso não recebam seus créditos.
As obras em diversos municípios foram contratadas por meio de licitação por vários órgãos do Estado, como a Conder, a Sucap, a Sudic e a Cerb. O governo baiano admite que deve parte dos contratos alegando que depende do recebimento de parte do empréstimo feito ao BNDES em 2009 para quitar as dívidas.
A Abeop fez publicar uma nota pública nos jornais de Salvador (mesmo “a contragosto”, ressalta a entidade) para explicar à população as razões de deixarem inacabadas escolas, hospitais, centros de saúde da família, pavimentação de ruas e construção de cisternas. “Ponderem que essas e mais “uma enormidade de intervenções de primeira necessidade se encontram sem previsão de entrega, prejudicando única e exclusivamente todos nós, contribuintes baianos”. Tornar o caso público para a entidade que congrega 23 empresas foi uma “última medida desesperada para evitar o fechamento de empresas e demissões em massa”.
Desespero - Um dos empresários prejudicados, que pede para não ser identificado, temendo retaliação, reclama do tratamento dos integrantes da equipe do governador Jaques Wagner.
“O governador é uma pessoa ponderada e cortês, não é do seu estilo perseguir e prejudicar as pessoas, mas sua cúpula, sai de baixo...”, disse o construtor, achando que a perseguição e a reação raivosa de alguns secretários ante a cobrança da dívida é comparável “aos tempos do carlismo” (época em que o grupo do falecido governador Antonio Carlos Magalhães dava as cartas no Estado).
Os empresários estão tão temerosos de não receber o dinheiro que não permitiram que os canteiros de obras paradas fossem fotografadas. “O que provocou impacto foi o fato de o secretário da Fazenda, Carlos Martins, ter declarado na última audiência pública sobre as contas do Estado na Assembleia Legislativa que o governo não devia nada a ninguém”, lamentou.
Heliton Castelo Branco, presidente da Abeop, explicou que, para sobreviver, os empresários prejudicados estão tomando empréstimos bancários para manter seus negócios. Ele não soube informar qual a dívida global do governo com as empresas pelo fato de as obras estarem pulverizadas em várias secretarias e órgãos.
Repasse de parcela - O secretário estadual do Planejamento, Zezéu Ribeiro, garantiu que o governo quitou “100% o ‘Restos a Pagar’ e 80% do DEA (Despesas do Exercício Anterior)”. Sobre os 20% restantes disse: “Devo, não nego, não pago por enquanto porque não posso”. Em cifras, segundo o secretário, o governo já pagou R$ 386 milhões do DEA, restando R$ 119 milhões.
O problema, segundo Zezéu, foi causado pelo fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não ter liberado a segunda parcela do empréstimo de R$ 375 milhões que o Estado captou em 2009.
O secretário considerou a nota da Abeop “equivocada e agressiva” e garante nunca ter recebido solicitação da entidade para um encontro.

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