Artigo: Tragédia anunciada

Por varias vezes, ao dirigir de volta de minhas viagens, para Ourolandia, fui ultrapassado pela nossa ambulância. Certa vez, em companhia de Sorlando, meu sócio. Imprimimos ao carro em que estávamos uma velocidade que nos permitisse ultrapassar aquele veiculo, apenas para vê-lo transformado em um pequeno ponto de luz e sumir no horizonte. Comentei que não havia razão para aquela pressa, que aquela forma temerária de conduzir uma veiculo colocava em risco, tanto e condutor e as pessoas que com ele estavam no carro, bem como outros veículos e pessoas com quem ele cruzasse durante a viagem. Em um programa de radio citei o fato e
pedi providencias ao gestor de então. Me preocupava o estado de conservação do veiculo, pois fui testemunha da condição lastimável em que se encontrava um que foi utilizado para transportar um funcionário nosso, que sofrera um acidente. Ainda que em perfeito estado de conservação, existem regras legais determinando a maneira correta de dirigir. Todo condutor de veículos assume os riscos inerentes a sua atividade. E preciso que esteja no total domínio de sua condição física, de modo a proceder com o máximo de cuidado e segurança.
Talvez nunca venhamos a saber o que de fato causou esta tragédia, e tentar agora encontrar culpados, se e que existem, passa a ser uma tarefa da policia técnica e da justiça. De todo modo não da para deixar de refletir sobre a possibilidade de se tentar evitar essas tragédias. Acidentes não acontecem por acaso. Não sao obra do destino, não sao falta de sorte. Na maioria absoluta das vezes, sao o resultado de uma sucessão de erros e imprudências perfeitamente evitáveis. Tem quem acredite que todos temos dia e hora marcados para o fim de nossas vidas. Não pode ser verdade. Fosse assim não se justificaria cultivarmos a prudência. Acidentes podem acontecer, mas em sua grande maioria podem e devem ser evitados. O valor imensurável de uma única vida justificaria todos os investimentos na preservação da integridade das pessoas. Não e possível avaliar o tamanho da dor de quem perde seus entes queridos de modo tão trágico. Não existe solidariedade ou pranto que conforte. O que resta a pais, irmãos e amigos e uma horrível sensação de impotência e de revolta, que marca a alma dos que ficam com cicatrizes permanentes, com um vazio que ninguém pode medir. Desejo de coração que os familiares encontrem na sua forma de crer a forca de que irão precisar nesse momento difícil de suas vidas. Sinto no meu íntimo uma tristeza que me abate. Todos os dias a repetição dessas tragédias veiculadas pela imprensa ainda não foi capaz de mudar o quadro. Continuamos sendo o pais campeão mundial de mortes no trânsito. Ate quando? Nos últimos dez anos, mais de quinhentos mil brasileiros perderam suas vidas em decorrência desse recorde indesejável. De quantas mortes ainda precisaremos para reduzir os números dessa estatística vergonhosa? Ou nos educamos para uma convivência civilizado e respeitosa no trânsito, ou continuaremos indefinidamente a ser apenas numeros, sem vida, sem valor, sem nada. No máximo, e apenas para os que amamos e que nos amam, seremos dor e saudade.Mucio Azevedo.