NEM QUE A VACA TUSSA...
Por: Zailton Silvestre
Você se lembra dele, né? É o Carneirinho, o Bom de Bola, aquele que disse numa rádio da cidade de Cafarnaum que se sentia orgulhoso de está naquela terra em que “Jesus andou fazendo milagres”. Pois é. Ele voltou a aprontar das suas. Quem conhece a história sabe que ele tinha dado por encerrada sua carreira de futebolista. Entretanto, alegando que até Pelé, que é Pelé, voltou atrás em sua palavra de Rei, porquê diabos ele não podia ter uma recaída? Afinal, o time de masters do E.C. Bahia – isso mesmo! – o Bahia, o Tricolor de Aço, com várias estrelas da memorável campanha de 88, estaria jogando em Várzea Nova, contra um selecionado local de veteranos.
Fala sério, você acha que nosso craque ficaria de fora dessa? Não! Na hora ele disse: Nem que a vaca tussa!, e logo tratou de promover sua autoconvocação e se colocar à disposição do técnico Arlivan que, desconfiado - e com razão! -, não titubeou em colocá-lo para treinar no time reserva.
No dia marcado, já sem o charme de antigamente, Carneirinho foi para a concentração trajando o agora surrado agasalho de moleton, boné desbotado, mochila amarelada pelo tempo, óculos escuros emendados com durepoxi, corpo acentuadamente curvado para frente pelo peso dos anos - agravado por um desvio na coluna -, enfim, longe, muito longe, do vigoroso e esbelto atleta de outrora.
É bem verdade que os craques do Bahia já não apresentavam uma silhueta digna do que se pode chamar de atletas e, por outro lado, o jogo era mais uma confraternização do que uma disputa.
Mesmo assim a torcida compareceu em massa ao Estádio Dionzão e vibrava com aquele momento nostálgico. Com 5 minutos de jogo o lateral de Várzea Nova foi acometido de câimbras. A galera gritou em coro: BOTA CARNEIRINHÔÔÔÔ!... sendo logo atendida pelo técnico - para deleite geral.
Do time do Bahia, lembro-me bem de Baiaco, Emo, Merica, Charles, Alberto Leguelé e o baixinho e serelepe Naldinho, todos ainda mostrando alguns lampejos dos craques que já foram um dia.
Carneirinho, como vimos, entrou sob aplausos na lateral direita, com a difícil missão de marcar o ainda veloz Naldinho que já naquela altura mostrava ser o mais perigoso dos atacantes do Bahia. No primeiro lançamento nas costa de Carneirinho, este falhou vergonhosamente e Naldinho só teve o trabalho de mandar a bola para o fundo das redes. O técnico Arlivan deu um chilique daqueles e só faltou arrancar os cabelos. A torcida não perdoou e veio abaixo: TIRA CARNEIRINHÔÔÔÔ!...
Para não queimar mais uma substituição à toa, em menos de dez minutos, o técnico resolveu mantê-lo em campo não sem antes lhe dá uma bronca daquelas. Nosso herói não se deixou abater pelas vaias e levantou a cabeça para o reinício do jogo. Dada a saída, a bola foi lançada em sua direção e o Naldinho se apresentou para marcá-lo. Não havia momento mais oportuno para a vingança. Frente a frente a seu algoz, decidiu: é agora! Fez o gingado, a torcida vibrou; aí, baixou o “São Robinho” e ele resolveu abusar, partindo para as famosas pedaladas! Em ritmo de câmera lenta, começou a passar um pé e depois o outro sobre a bola até que, com o pé direito, atingiu o próprio calcanhar esquerdo, o que lhe ocasionou uma queda ridícula e espalhafatosa, sem que a bola saísse do lugar.
A torcida foi ao delírio, mas o raivoso técnico Arlivan perdeu a paciência com ele e o substituiu imediatamente. Ao sair sob uma chuva de vaias e aplausos, ainda tentou se explicar pelos microfones da Rádio Várzea Nova FM. Disse ele: "na hora, senti uma visgada no nervo asiático"...
Por: Zailton Silvestre
Você se lembra dele, né? É o Carneirinho, o Bom de Bola, aquele que disse numa rádio da cidade de Cafarnaum que se sentia orgulhoso de está naquela terra em que “Jesus andou fazendo milagres”. Pois é. Ele voltou a aprontar das suas. Quem conhece a história sabe que ele tinha dado por encerrada sua carreira de futebolista. Entretanto, alegando que até Pelé, que é Pelé, voltou atrás em sua palavra de Rei, porquê diabos ele não podia ter uma recaída? Afinal, o time de masters do E.C. Bahia – isso mesmo! – o Bahia, o Tricolor de Aço, com várias estrelas da memorável campanha de 88, estaria jogando em Várzea Nova, contra um selecionado local de veteranos.
Fala sério, você acha que nosso craque ficaria de fora dessa? Não! Na hora ele disse: Nem que a vaca tussa!, e logo tratou de promover sua autoconvocação e se colocar à disposição do técnico Arlivan que, desconfiado - e com razão! -, não titubeou em colocá-lo para treinar no time reserva.
No dia marcado, já sem o charme de antigamente, Carneirinho foi para a concentração trajando o agora surrado agasalho de moleton, boné desbotado, mochila amarelada pelo tempo, óculos escuros emendados com durepoxi, corpo acentuadamente curvado para frente pelo peso dos anos - agravado por um desvio na coluna -, enfim, longe, muito longe, do vigoroso e esbelto atleta de outrora.
É bem verdade que os craques do Bahia já não apresentavam uma silhueta digna do que se pode chamar de atletas e, por outro lado, o jogo era mais uma confraternização do que uma disputa.
Mesmo assim a torcida compareceu em massa ao Estádio Dionzão e vibrava com aquele momento nostálgico. Com 5 minutos de jogo o lateral de Várzea Nova foi acometido de câimbras. A galera gritou em coro: BOTA CARNEIRINHÔÔÔÔ!... sendo logo atendida pelo técnico - para deleite geral.
Do time do Bahia, lembro-me bem de Baiaco, Emo, Merica, Charles, Alberto Leguelé e o baixinho e serelepe Naldinho, todos ainda mostrando alguns lampejos dos craques que já foram um dia.
Carneirinho, como vimos, entrou sob aplausos na lateral direita, com a difícil missão de marcar o ainda veloz Naldinho que já naquela altura mostrava ser o mais perigoso dos atacantes do Bahia. No primeiro lançamento nas costa de Carneirinho, este falhou vergonhosamente e Naldinho só teve o trabalho de mandar a bola para o fundo das redes. O técnico Arlivan deu um chilique daqueles e só faltou arrancar os cabelos. A torcida não perdoou e veio abaixo: TIRA CARNEIRINHÔÔÔÔ!...
Para não queimar mais uma substituição à toa, em menos de dez minutos, o técnico resolveu mantê-lo em campo não sem antes lhe dá uma bronca daquelas. Nosso herói não se deixou abater pelas vaias e levantou a cabeça para o reinício do jogo. Dada a saída, a bola foi lançada em sua direção e o Naldinho se apresentou para marcá-lo. Não havia momento mais oportuno para a vingança. Frente a frente a seu algoz, decidiu: é agora! Fez o gingado, a torcida vibrou; aí, baixou o “São Robinho” e ele resolveu abusar, partindo para as famosas pedaladas! Em ritmo de câmera lenta, começou a passar um pé e depois o outro sobre a bola até que, com o pé direito, atingiu o próprio calcanhar esquerdo, o que lhe ocasionou uma queda ridícula e espalhafatosa, sem que a bola saísse do lugar.
A torcida foi ao delírio, mas o raivoso técnico Arlivan perdeu a paciência com ele e o substituiu imediatamente. Ao sair sob uma chuva de vaias e aplausos, ainda tentou se explicar pelos microfones da Rádio Várzea Nova FM. Disse ele: "na hora, senti uma visgada no nervo asiático"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário