Homenagem póstuma, escrita por Zailton Silvestre ao seu irmão Zaqueu Silvestre que nos deixou precocemente na última terça-feira, 30.
."Zé,
Esta é da vida real.
'Oh, pedaço de mim! 
Oh, metade amputada, afastada, arrancada, exilada de mim'!
Qualquer que seja a forma achei no poeta a expressão exata do que aconteceu comigo no último dia 30.11.2010, data que o Senhor Todo Poderoso convidou o mano Zaqueu para seu convívio eterno.
Não tenho dúvidas de que o Senhor estava precisando dele lá em cima.
Isso fica patente na rapidez da decisão.
Precisava ser tão cedo? Não podia esperar mais uns invernos, verões, outonos e primaveras? Certamente não! A hora era chegada. Tinha que ser agora! Ele sabe o que faz.
O Day after foi um suplício. Contrariou claramente a máxima de outro poeta que insistia em afirmar que o tempo não pára.
Nunca 24 horas pôde ser contadas segundo a segundo e se transformar numa eternidade como naquele dia.
Ô ritual triste. Ô ritual doloroso. Ô infinito mar de lágrimas! Ô coração valente e resistente a emoções!
Zaqueu foi o retrato da vontade de querer viver. Guerreiro, combatia o bom combate e mantinha a fé!
Na juventude de seus 57 anos, sempre me dizia: - mano, já perdi a conta dos anos que convivo com dores. Não há um só dia que não as sinta. No entanto, dizia isso sorrindo, alegre, se preparando para uma festa onde normalmente era o animador mor.
Em seu dia-a-dia não havia espaço para lamentos, tristezas ou choramingas.
Como as dores o impedia de dormir, suas horas podem ser contadas em dobro.
Descontraído, descolado, sorridente, culto, extrovertido, virtuoso, Zaqueu era uma criatura que quando chegava num ambiente a impressão que se tinha era de que todos estavam lhe esperando.
Moderno, viveu à frente do seu tempo.
Aprendeu - talvez com Nelson Rodrigues - a ver a vida como ela é.
Seu modo irreverente de ser lhe conferiu ares de unanimidade. Seu carisma seduzia de “mamando a caducando”.
Transparente, franco e sincero arregimentou legiões de fãs. Fãs comuns, crianças, jovens, adultos que via em sua cultura, em sua educação, em sua simplicidade, em sua bondade, fonte de conhecimento e motivos para uma prosa descontraída.
Devorava um livro como um faminto a um prato de comida.
A partida do 'Mano Velho' foi uma comoção só. Não houve olho sem lágrima. Não houve garganta sem nó. Várzea Nova, entristecida, parou.
Um dia triste. Uma manhã acinzentada. Um vazio inexplicável. Uma solidão imensurável. Uma multidão desorientada. Uma angústia sem par.
De tudo uma certeza: Deus quis assim.
Para nós, familiares enlutados, restou o consolo e a solidariedade dos amigos, as manifestações de carinho, os abraços, as sábias palavras do padre Róman na missa de corpo presente, a suavidade da Filarmônica Minerva atendendo seu pedido, a doçura do trompete de Silas entoando 'Nossa Senhora', sua canção preferida.
Restou ainda o seu legado de cidadania, de pai, de filho, de irmão, de avô, de conselheiro, de amigo, de cristão, de homem e da criança que sempre lhe acompanhou.
Para Várzea Nova, a tristeza de ter perdido, prematuramente, um de seus filhos mais ilustres.
Faço aqui uso adaptado de um forte slogan que acompanha 'post mortem' de um astro pop americano, para guardar a boa imagem de meu querido mano: 'Zaqueu não morreu!', ".
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Várzea Nova, 03 de dezembro de 2010.
Por: Zailton Silvestre
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